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Enter: Os Primeiros Dois Anos

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September 23, 2025
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Mateus Costa-Ribeiro

Co-fundador
Chief Executive Officer

September 24, 2025

Hoje a Enter completa dois anos de vida. Escolhemos essa data especial para anunciar o maior investimento já feito em uma empresa brasileira de AI: levantamos R$ 200 milhões com o Founders Fund e a Sequoia para continuar transformando o sistema jurídico brasileiro de ponta a ponta.

Eu estava saindo de uma aula de Otimização e Modelagem em Stanford, em 2023, quando recebi o CNPJ da Enter da junta comercial. Corri para encaminhar os documentos ao banco para abrirmos uma conta da empresa e recebermos os cheques dos investidores anjo o quanto antes, porque eu já tinha gastado boa parte do meu dinheiro pessoal mantendo três engenheiros e o nosso primeiro piloto rodando.

Minha sensação é que os dois anos seguintes foram como dirigir um carro em alta velocidade, em que sucesso significou passar voando por uma curva com o coração na boca, apenas para se deparar com outra virada logo adiante. Sem parar um minuto para respirar, já era hora de acelerar de novo.

Os desafios que nós superamos foram tão gigantescos que apenas um exercício implacável e impaciente de força de vontade nos permitiu chegar até aqui. Desde que anunciamos nossa rodada Seed há cinco meses, a Enter só acelerou e:

  • Adicionou oito grandes empresas à nossa base de clientes, todas listadas em bolsa, incluindo Mercado Livre, Airbnb, Santander, Itaú, Banco Mercantil e Magalu;

  • Passou de 250.000 processos geridos pela nossa plataforma de IA (cerca de 2x o número total de processos cíveis ajuizados no Japão em um ano inteiro); e

  • Ampliou em mais de 4x nossa carteira média de casos (número de processos geridos pela Enter) dentro de cada cliente – um indicador de retenção que mostra nosso sucesso em extrapolar pilotos e experimentos e integrar a estratégia de longo prazo dos clientes para reduzir custos jurídicos.

Construir uma empresa me trouxe muita realização e sofrimento. Muitas vezes ao mesmo tempo. A Enter me permitiu, pela primeira vez, descobrir o que eu realmente amo fazer e me mostrou o que significa perseguir uma missão de vida. Esse foi o maior presente da minha jornada como fundador: sentir uma obsessão entusiasmada de ir trabalhar todos os dias. Mas também me custou algumas das coisas e pessoas que mais amava: desde largar Stanford e abrir mão de um sonho de anos de morar no Vale do Silício até ter dificuldade de dedicar tempo às pessoas que mais importavam para mim no mundo, e sofrer ao vê-las se afastando.

Os últimos dois anos se resumem a duas fases: sobrevivência e escala. Na Fase 1, precisávamos construir um produto que mudasse a vida das pessoas – e tínhamos que fazer isso rápido; na Fase 2, estamos agora construindo uma religião para reunir o melhor time do mundo em torno da nossa visão compartilhada de transformar a Enter na maior empresa de AI da América Latina.

Fase 1 – Sobrevivência

Em maio de 2024, nove meses após nossa fundação, ainda não havíamos assinado com nenhuma grande empresa. Tínhamos pouco mais de um milhão de dólares no banco vindos da rodada pre-seed e alguns poucos escritórios de advocacia eram clientes pagantes. Lembro de ter voltado para casa numa segunda-feira às 4h da manhã depois de passar o fim de semana inteiro no escritório. Precisava dormir alguma coisa antes de uma reunião às 9h com o que se tornaria nosso primeiro cliente no produto de “contestações” – um grande banco. O produto ainda parecia instável e estávamos prestes a lançá-lo para 200 casos reais. Tinha que dar certo ou perderíamos nossa melhor chance de conquistar um primeiro grande cliente.

Minha ansiedade voltando do escritório para casa naquele dia me fez ranger os dentes com tanta força que achei que poderia tê-los quebrado.

Exatamente uma semana antes, eu tinha apresentado um PowerPoint ao diretor jurídico daquele banco explicando o conceito de como uma AI redigiria contestações em três etapas: entender a petição inicial, revisar um enorme conjunto de provas e gerar um arquivo Word pronto para revisão humana. O cliente se interessou e, mais importante ainda, reclamou de problemas muito específicos nas contestações feitas sem AI – um trabalho com o qual gastavam milhões de reais todos os anos.

O problema era real e muito dinheiro estava sendo desperdiçado – então eu sabia que estava no caminho certo.

Voltei ao escritório da Enter naquele dia, juntei todo o time (éramos sete) e disse que tínhamos que entregar o produto de Contestações em uma semana para aquele grande banco testar. Na Fase 1, tudo gira em torno de encontrar um produto de que as pessoas realmente precisem – e construí-lo ultra rápido.

“Rápido” porque uma startup é como um foguete tentando decolar: a força gravitacional te impedindo de alcançar órbita é tão absurda que apenas um exercício implacável e impaciente de força de vontade (sim, eu adoro essa expressão) consegue romper a inércia. A energia de uma startup não é gasolina – são pessoas, e a motivação delas se dispersa depois de 2–3 anos se a empresa não estiver crescendo. Você precisa chegar a órbita rápido para escapar da gravidade e manter suas tropas alinhadas para o próximo desafio. O prazo para acertar o produto é limitado.

Por isso, Mike, Vaz, Banduk e eu cancelamos tudo e trabalhamos sete dias seguidos, sem parar, para cumprir o prazo que havíamos combinado com o cliente. Uma semana depois, às 4h da manhã de uma segunda-feira, no dia do lançamento, publicamos o produto de Contestações no nosso site.

Além de fazer as coisas “rápido”, a outra prioridade no estágio inicial é construir um produto “realmente necessário”. É uma forma menos sofisticada de dizer product market fit (PMF). No nosso primeiro ano de existência, fiquei obcecado em saber se a vida dos nossos clientes havia mudado de fato por causa do nosso trabalho, especialmente porque o hype da AI levava clientes a testar qualquer ferramenta de agentes que parecesse promissora.

Criei então uma estrutura para medir se o produto da Enter (ou qualquer produto Enterprise) era “realmente necessário”. Se você não cumpre essas três condições, é melhor pivotar ou fechar a empresa, porque ela não vai atingir crescimento exponencial:

  1. Orçamento significativo – Cada CEO ouve do conselho de administração que deveria usar mais ferramentas de AI, e a diretoria de toda empresa ouve o mesmo do CEO. Fechar um grande cliente, portanto, não era sinônimo de PMF, porque o produto poderia ter sido escolhido apenas para “cumprir tabela” e fazer a diretoria parecer inovadora. Precisávamos conquistar a confiança dos clientes e vê-los ampliar o uso da ferramenta para provar PMF. “Experimentos” e “pilotos” foram as palavras que mais ouvi na Fase Um – e também as que mais odiei como fundador (ainda odeio!), porque significavam compromissos pequenos e de curto prazo com nosso produto. Nós lutamos contra a corrente dos pilotos indefinidos com força e conseguimos persuadir vários clientes a comprometer com a Enter 20–30% de seu orçamento destinado a provedores de tecnologia e serviços no contencioso.

  2. Repetibilidade do produto – Atender grandes empresas (com valor de mercado de bilhões de dólares) inevitavelmente exige relacionamento próximo com decisores e algum nível de customização do produto, já que cada cliente tem sistemas internos e problemas jurídicos únicos. Mas repetibilidade significa que sua proposta de valor deve ser específica e consistente. Deve delimitar claramente um público alvo (contencioso de consumo), um impacto almejado (redução de 15% dos gastos com perdas judiciais) e uma funcionalidade a ser entregue (contestações). Isso permite colher juros compostos entre clientes já que o time pode se focar em uma mesma entrega e garante que a parte escalável do produto seja bem mais relevante do que a última perna customizada. Se você não tem uma oferta de AI específica, você não tem um produto – tem apenas um grupo de pessoas correndo atrás do próximo caso de uso. Eu sempre uso alguns termômetros na Enter para medir se nossa escalabilidade supera nosso braço de serviços – e me faço essas perguntas até hoje:
  1. Mais de 80% dos nossos engenheiros estão focados em desenvolvimentos que vão melhorar o produto para todos os clientes, ainda que a ordem de prioridade seja influenciada pelos maiores contratos?
  2. O custo do nosso time de implementação representa menos de 20% da receita bruta do contrato na maturidade?
  3. Nosso time de Vendas usa basicamente o mesmo deck para cada nova reunião com um cliente novo?
  1. Consumo excedente – Em grandes empresas, quem decide o orçamento está distante da implementação. Por isso, cumprir as duas condições anteriores e assinar um contrato grande de um produto escalável não basta para definir PMF em enterprise software. É preciso observar a retenção no dia a dia. Eu acompanhava nosso net recurring revenue e se os usuários finais realmente adotavam o produto para além do volume contratado, expandindo o uso para áreas adjacentes. O sinal máximo disso acontece quando um cliente renova o contrato antecipadamente para ampliar o consumo para um novo tema jurídico.

A Fase 1 foi toda sobre validar essa estrutura em três partes na prática – e conseguir isso antes que acabasse nosso dinheiro ou motivação. Ela terminou em novembro de 2024, quando assinamos nosso quinto contrato acima de US$ 500 mil dólares de ARR com uma empresa listada em bolsa (compromisso de orçamento significativo), vendendo contestações de processos feitas por AI (repetibilidade do produto) e depois vimos nossos números de NRR dispararem (consumo excedente).

Fase 2 – Escala

Se a Fase 1 é sobreviver, a Fase 2 é escalar o produto descoberto na Fase 1. Na Enter sempre pensamos em crescimento como saltos de uma ordem de grandeza na receita, e percebi que teria que mudar completamente meu papel como CEO quando chegamos a US$10 milhões de dólares de ARR contratado.

Até então, eu havia liderado pessoalmente todos os pitches de vendas e estava profundamente envolvido nas principais decisões de produto e squads de implementação. Sentia que as coisas estavam sob controle e estava com a mão no batimento cardíaco da empresa.

Mas então sentei com meus sócios e desenhei um plano para chegarmos a US$100 milhões de dólares em ARR. Era outro jogo. Minha intuição sobre o produto ou capacidade de persuasão para fechar um cliente não seriam suficientes – precisávamos expandir para mercados adjacentes e assinar com cinco grandes empresas por trimestre. Isso só uma engrenagem muito bem azeitada de produto e crescimento poderia entregar. Percebi que a Enter estava entrando em uma nova fase. 

Há dois arquétipos de fundadores – o modo encanador (Plumber Mode), de conhecer a empresa no detalhe e desentupir seus gargalos com as próprias mãos, e o modo pastor (Preacher Mode), de inspirar outros a pular nas trincheiras com você.

Na Fase Dois, meu Plumber Mode precisava ser complementado com um pouco de Preacher Mode: minha nova missão como fundador era construir uma religião capaz de atrair as melhores pessoas do mundo para nosso escritório na Rua Butantã, em São Paulo, para darem vida à visão da Enter. Passei a dedicar metade do meu tempo recrutando para as posições críticas e trabalhando lado a lado com o time, transmitindo o padrão Enter do que significa fazer algo excelente.

O Preacher Mode permitiu que a Enter formasse o time early stage mais talentoso já reunido na história do empreendedorismo brasileiro. Mais da metade mudou-se de fora de São Paulo para se juntar à nossa empresa 100% presencial – eu incluso. Repatriamos mais de 15 pessoas dos EUA e da Europa, vindas das melhores universidades do mundo, movidas pelo desafio de construir a principal empresa de AI da América Latina. Criamos um círculo de excelência em que pessoas que amam fazer um trabalho de alto nível se sentem em casa.

Fomos testados quando um engenheiro brilhante (bicampeão da maratona de programação), que havia acabado de aceitar nossa oferta, recebeu uma contraoferta com salário 2x maior e um bônus de retenção de mais de R$1 milhão de reais; ou quando nosso líder de implementação ganhou visto de três anos para trabalhar na Amazon nos EUA após se formar na Harvard Business School e tinha um caminho claro para viver em um país desenvolvido pelo resto da vida. Vencemos todas essas guerras por talento porque conseguimos articular que a Enter é mais do que um emprego – é uma oportunidade de encontrar propósito em um movimento.

Trazer as primeiras sessenta pessoas foi um momento Avengers Assemble: cada um recomendava as 2–3 melhores pessoas com quem já havia trabalhado, e nós corríamos atrás delas.

À medida que pessoas brilhantes começaram a se juntar ao time, passei a estudar como as religiões foram estruturadas ao longo da civilização humana, porque eu queria descobrir como manter todas essas pessoas excepcionais alinhadas e avançando na mesma direção. Minha missão era intimidadora. 

As religiões, eu descobri, se resumem a três grandes pilares:

Obrigações comportamentais são códigos de conduta que todos os que fazem parte da religião devem seguir. Numa empresa, elas devem refletir uma descrição de como os fundadores se comportam, numa tentativa de escalar sua ética de trabalho por toda a organização. Por isso, a melhor forma de “disseminar” essas obrigações à empresa é simplesmente fazer um trabalho excelente — as pessoas observam você, como fundador, e seguem seu estilo. A segunda melhor forma é nomear explicitamente essas obrigações comportamentais que definem o que fazer e o que não fazer. No caso da Enter, eu reduzi nossa “religião” a três coisas:

  1. Immediate Candor significa não segurar o que você pensa nem adoçar sua opinião sobre problemas na empresa para evitar conflito. Seus colegas merecem feedback honesto e na hora – do contrário, você não os está ajudando e nem sendo um bom companheiro de trincheira. Segurar feedback gera ressentimento e prejudica a performance do time, então escolhi priorizar esse valor por toda a empresa chamando atenção imediatamente para qualquer coisa fora do lugar — especialmente nas reuniões em grupo ou all-hands da empresa, para todos verem — e fazendo isso de forma direta e gentil, consigo comunicar que é esperado que todos corrijam uns aos outros para tornar a Enter uma empresa melhor.
  2. Deliver Wow significa ir além do que o cliente espera – e o seu cliente pode ser uma empresa que nos contratou (para os times de Vendas ou Implementação), um candidato (para o time de People) ou um usuário sofrendo com um bug (para o time de Engenharia). A forma como você entrega o que eles precisam deve ser mais rápida e melhor do que uma pessoa razoável esperaria. Esse princípio nos guia em decisões simples — como sempre realizar eventos de clientes nos melhores locais, como no Palácio Tangará em São Paulo — até decisões grandes de priorização, como lançar com um trimestre de antecedência um modelo de AI para detectar adulteração em comprovantes de residência por autores que processam nossos clientes, o que fez uma gerente jurídica chorar por finalmente encontrar uma ferramenta para identificar fraudadores que estavam abusando da sua empresa. Tudo que carrega o nome da Enter precisa ser impecável ou construído de forma espetacularmente rápida.
  3. The Ship is Sinking Mindset é a minha favorita porque convoca todos na Enter a não assumir que vamos existir para sempre. Precisamos merecer existir. Significa impaciência e urgência. Devemos agir como o time fundador agiu quando precisávamos lançar o produto de Contestações em uma semana e fechamos nosso primeiro contrato Enterprise. É fundamental afastar a complacência. Todo mundo na Enter está proibido de dizer que a empresa deu certo ou que “chegamos lá”. Isso continuará valendo mesmo depois de abrirmos capital.

Visão de mundo única é o que convence as pessoas de que elas devem seguir as obrigações comportamentais, que tipicamente causam desconforto. No cristianismo, as pessoas evitam pecar (obrigação comportamental) para ir para o céu e seguir os ensinamentos de Jesus (visão de mundo única); e o nosso time trabalha com um nível brutal de urgência na Enter (prescrição comportamental) porque acredita na nossa missão central de construir um líder global de IA a partir do Brasil (visão de mundo unificada). É a crença nesse futuro grandioso que permite ao time abraçar a nossa zona de desconforto. Toda empresa deve disseminar uma visão do que quer alcançar, e ela precisa ser ambiciosa para atrair pessoas que sonham grande.

Rituais são a principal razão pela qual a Enter escolheu uma cultura de trabalho totalmente presencial, cinco dias por semana, para todos os times. O propósito dos rituais é criar uma empresa com carisma e magnetismo — uma que faça as pessoas se sentirem em casa e, ao mesmo tempo, parte de um time olímpico competitivo.

  1. Sentir-se em casa — Somos extremamente intencionais em plantar as sementes para que pessoas do time se tornem melhores amigas, e mais da metade dos meus melhores amigos da vida trabalha na Enter. A empresa organiza encontros mensais de seis pessoas em restaurantes legais para todo o time, fazendo eles se conhecerem fora do trabalho. Todo fim de semana tem alguma coisa acontecendo entre pessoas da Enter, especialmente porque muitos se mudaram do exterior para São Paulo e viraram a rede de apoio uns dos outros. Também marcamos um jantar individual com todo mundo que se torna sócio da empresa, com sua família (mãe, pai e plus one) e os fundadores com suas famílias também, como forma de compartilhar o quanto valorizamos seu esforço e de demonstrar aos seus familiares como sua excelência é reconhecida pela empresa. É um ritual de iniciação que as famílias adoram. Assim, as pessoas a quem eles recorrerão para pedir conselhos profissionais também fazem parte do movimento Enter.
  2. Entrar para um time olímpico — Estimulamos um espírito de excelência sem gerar competição interna criando um “culto ao equity”. Isso aconteceu de duas formas: distribuímos jaquetas bonitas e caras para os sócios da Enter — um sinal de status e que reconhece a contribuição de alguém para a empresa. Também fazemos cafés da manhã trimestrais com nossos sócios (cerca de um terço da empresa) para discutir valuation, liquidez e nossa estratégia para conquistar o mercado, onde nada é censurado na conversa. Todo mundo é ouvido e recebe um briefing da nossa última reunião com o conselho da empresa. O fato de as jaquetas e os cafés serem exclusivos foi chave para todos quererem participar — e isso significou que todos passaram a querer ações da empresa. Esse ritual reafirmou como é valioso ser sócio e levou as pessoas a se esforçarem ainda mais para chegar lá.

Antes de começar a Enter, eu persegui um diploma acadêmico atrás do outro – e isso dependia só das minhas próprias habilidades intelectuais e de comunicação. E assim virei a pessoa mais jovem a fazer isso, a fazer aquilo.

Mas tudo isso é fichinha comparado à dificuldade de construir uma empresa, por conta da complexidade humana de alinhar um time de mentes excepcionais – e divergentes – na mesma direção.

A dificuldade da Fase Dois é que ela exige que você se destaque em duas coisas completamente diferentes — o modo encanador (Plumber Mode), para contribuir de forma tangível com as metas da empresa como contribuidor individual e estrategista, e o modo pastor (Preacher Mode), para criar a mensagem que vai unir todo o time nas trincheiras.

Caixas mentais

A habilidade de alternar entre esses modos, ligando e desligando à vontade – e de cancelar todo o ruído do seu entorno para tomar decisões – é o que separa os melhores empreendedores do resto.

Lembro do dia em que um grande cliente que queríamos assinar me ligou dizendo que adiaria a contratação da Enter por alguns meses e meu estômago virou, porque o trimestre fecharia em uma semana e aquele cliente era crítico para batermos a meta de receita. Ainda assim, eu estava no escritório de outro prospect prestes a apresentar a Enter para o CEO de uma grande empresa de telecom, e precisei desligar todos os pensamentos dispersos sobre a meta. A reunião com o CEO foi ótima e voltei ao escritório bem energizado: eu estava pronto para reverter a decisão do outro cliente de não assinar com a Enter nesse tri – quando ouvi que o pai de um sócio havia sido diagnosticado com câncer terminal e ele precisaria deixar a empresa por alguns dias. Chamei ele para conversar, olhei nos olhos dele e mostrei que ele era a única coisa que importava naquele momento. Assim que ele saiu, pensei no meu pai, com quem eu não falava há vários dias por causa da correria, e meus olhos se encheram de lágrimas – mas precisei guardar aquilo numa caixinha para ligar para aquele cliente e convencê-lo a assinar com a Enter antes do fim do trimestre. Spoiler: nós fechamos o contrato.

Os dois primeiros anos da Enter foram um esforço constante de criar caixas mentais para as coisas na minha cabeça. Isso se tornou a habilidade mais importante para alternar do Plumber Mode ao Preacher Mode, de confortar um colega da empresa a fechar nossa rodada Série A a fechar um contrato grande – tudo no mesmo dia.

Pressure is a privilege

Ao refletir sobre minha jornada como fundador dois anos depois de criar a Enter, escrevi esse texto para ajudar outros empreendedores que estão começando a tirar suas ideias do papel. Espero que você também encontre quem você verdadeiramente é no processo de construir uma empresa.

A Enter virou minha missão de vida porque, nos últimos dois anos, encontrei uma rotina em constante mudança, em que os desafios nunca acabam. Nosso resultado como empresa é a soma de milhares de vetores apontando em direções diferentes (time, clientes, regulação, mudanças tecnológicas, marketing, taxa de juros), e lidar com todos eles ao mesmo tempo é a coisa mais empolgante que eu já fiz. “Pressure is a privilege”, como diz uma placa no Arthur Ashe Stadium do US Open.

Olhando para frente, no mês que vem lançaremos o Enter OS — nosso sistema operacional para empresas que enfrentam o contencioso de massa. Ele vai muito além de redigir uma contestação e gerencia um processo de ponta a ponta. Nossa plataforma agora inclui agentes de AI capazes de detectar fraude em documentos, recomendar valores para acordo, interpretar publicações em tempo real vindas dos tribunais e avaliar as chances de reverter uma sentença em grau de recurso.

O Enter OS reafirmou nossa energia de empresa jovem, exatamente como quando lançamos o produto de Contestações em uma semana em 2024. Nos mexemos sempre com urgência, porque, lembrem-se, “the ship is sinking”, e ele sempre estará afundando, não importa quanto dinheiro a gente tenha no banco ou quantos clientes usem nosso produto.

Esse é o jogo infinito que nos mantém em movimento. A boa notícia é que, ao contrário dos diplomas acadêmicos, não existe “formatura” na construção de uma empresa que quer entrar para a história.